sábado, 24 de maio de 2014

Diário de Bordo

Depois de algum tempo andando e vivendo, creio que deveríamos carregar uma cadernetinha, uma espécie de diário de bordo onde anotaríamos tudo que dissesse respeito às atividades do dia a dia.
Nada a ver com agenda, essa é para o trabalho.
A cadernetinha, de preferência pequena, mas não demais, seria extremamente útil para que tomássemos nota de coisas que fazemos ou guardamos, e com tal zelo, que depois esquecemos.
Sim, o esquecimento vem chegando devagar, sorrateiro, e vai se enfiando que nem piolho em costura, e a gente tenta lembrar o nome da pessoa que está sorridente bem na nossa frente, a mente trabalhando a todo vapor, quem é, conheço essa pessoa, claro que conheço, e faz tempo, não é de hoje, mas e o nome? Ficaria um tanto quanto estranho levar a mão ao bolso do casaco e puxar a cadernetinha, espera aí um minuto, vou espiar aqui porque não consigo lembrar teu nome... e a fama de caduca espalhar-se-ia como rastilho de pólvora.
Não dá, não rola, não tem como.
Mas para as tarefinhas do dia a dia, que sabe...
Por exemplo, você comprou um anel tão lindo e quer guardá-lo muito bem guardado, afinal, é uma joia cara e rara,  para ser usada somente em ocasiões especiais, até que, naquele jantar, decide usar o anel e, cadê? Guardou tão bem que escondeu de si mesma e não acha e talvez não o encontre tão cedo, certamente  não a tempo de usá-lo naquele jantar.
Pensei nisso quando comecei a procurar um par de botas pretas que comprei no ano passado.
Fui nos lugares tradicionais, e nada das botas.
Ué, sais, onde terei guardado?
Será que foi embora por engano, quando tive meu ataque anual de São Francisco de Assis, ocasião em que junto uma pilha de roupas, coisas e loisas que passo adiante?
Será?
Depois de muito procurar, sentei-me calmamente sob o tímido sol da manhã, e decidi buscar em outro lugar: na mente.
Peguei meu diário de bordo imaginário e comecei a "ler" folha por folha, remexendo nos escaninhos da memória: abre uma gavetinha aqui, arreda um baú de lá, vai para outra gaveta, até que, aháááá´: lembrei que minhas botas pretas estavam em Porto Alegre, no apê das filhas.
Ainda bem!
Com tantos rótulos que pululam por aí -  e abomino todos, diga-se de passagem como " meia idade, cinquentona (esse leva todas as fichas), melhor idade, acredito piamente que o que não podemos perder, de jeito nenhum, é o bom humor.
E,  para isso,  não precisamos de nenhuma cadernetinha.
Aliás, onde coloquei  as chaves do carro?





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