quinta-feira, 1 de maio de 2014

Una Piccola Confusione

Foi uma das raras ocasiões em que os Fernández e os Mondadori juntaram-se para ir ao um badalado casamento na cidade de Concórdia, Província de Entre Rios, na Argentina, onde morava minha tia Albita,  irmã de minha mãe.
Dois dias antes para lá acorremos, " en caravana", como dizia um outro parente, a fim de participarmos do casório ilustre.
Veio toda a parentela  de Buenos Aires, gente de Posadas, outros de Apostoles, além do sem fim de amigos e conhecidos argentinos convidados para o verdadeiro acontecimento que estava por vir.
 Minha mãe, feliz que nem  pinto no lixo,  não fechava a boca e ria alto, tal a suprema alegria que aqueles encontros lhe proporcionavam.
Uma parte do grupo ficou hospedada na casa da tia Albita, o restante do povo foi para o hotel, incluídos aí meus tios paternos, Carlos Alberto e Maria Alba.
No dia da festa, a agitação na casa da tia Albita era geral porque, muito embora ela morasse numa casa enorme, a mesma não tinha sido feita para abrigar as vinte pessoas que se aglomeraram ali, só que ninguém se importava com isso, o que valia era a gritaria e as conversas que  ecoavam por todos os cômodos.
Minha tia Dora, mulher de um irmão de minha mãe, era, sem sombra de dúvidas, a mais divertida. Ela era alta e bem magrinha, dona de uma voz sensacional e,  nos encontros familiares, costumava cantar a plenos plumões, para felicidade geral.
Da igreja onde transcorreu a belíssima cerimônia do casamento rumamos para a festança de arromba, patrocinada pelos pais da noiva e um show à parte em matéria de decoração, iguarias finas, bebidas, músicas escolhidas a dedo: uma festa impecável.
Imaginem uma mesa onde italianos e argentinos estejam juntos. Uns 15, aproximadamente, fora os que estavam nas mesas vizinhas.
Um escândalo, se é que me entendem.
A festa corria solta e a champanhota mais ainda, o som da música aumentou e a maioria já começava num embalo tremendo quando, de repente, minha tia Dora ficou muito séria e,  com um grito,  exclamou:
Alllbaaaaaa!
Minha tia Albita, chique como sempre, apavorada, respondeu:
Pero que te pasa, Dora, que tenés?
" Hace un tiempo que te estoy mirando e ahora veo, te pusiste el vestido al revés."
Minha tia Albita ficou vermelha como um camarão e prontamente olhou para baixo, para a barra de seu vestido ali, bem à mostra, assim como todas as costuras laterias.
" No es posible" .... e desatou a rir, incontrolavelmente, assim como todos nós. Todos ríamos desatinadamente, muito pela bebida e pouco pela questão do vestido do avesso, fato é que estávamos todos naquilo, e a tia Dora sacudia-se a gargalhar quando pláááá: sua dentadura saltou longe, indo parar na pista de dança.
Meu tio Carlos Alberto, um gentleman, levantou-se rapidamente e foi buscar a dentadura da tia Dora, que não sabia onde se esconder de vergonha e outra saída não teve a não ser pedir que a levassem dali o mais depressa possível, no que foi seguida pela tia Albita. 
Saíram as duas da festa, sob o protesto de alguns e as risadas da maioria, somente o tio Carlos Alberto permaneceu sério, pedindo a todos: parem, por favor, foi somente una piccola confusione! mas ninguém lhe deu ouvidos pois não controlávamos mais nada e a comédia bufa, protagonizada pelas duas respeitáveis tias Fernández,  entrou para os anais das histórias familiares.
A cada festa, não faltava quem lembrasse à  tia Albita, olha bem o vestido, vê se não está do avesso...ou à tia Dora, não ri muito, cuidado para não perder a dentadura!
Minhas tias lindas, que momentos fantásticos passei com vocês. 
Ainda bem que o amor não termina!





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