terça-feira, 10 de junho de 2014

El Professor

Em tempos de Copa do Mundo, lembrei de uma história, que compartilho com vocês, meus queridos amigos, e que começou mais ou menos assim:
Era fevereiro de 1986 e eu, me achando a última bolachinha recheada do pacote, comecei uma pós graduação que duraria 1 ano, e  cujas aulas começariam em março.
De fato, no início daquela semana memorável lá estava eu,  novamente,  nos bancos escolares, para fúria do Dr. Edgard, que me queria em Itaqui e não no Portinho, só que não arredei pé e recomecei os estudos, o curso era uma maravilha em termos de ensino.
Mas, maravilha,  maravilha mesmo, era o Professor de Direito Penal!
O cara entrou na sala de aula e arrasou Bangu, um homem alto, loiro,de ojos azules e cabelo crespo, vozeirão, pois é, e a matuta do interior aqui ficou de queixo caído, até hoje não sei muito bem quais eram os tópicos da matéria, lembro deles vagamente, pois meu caderno ficou com quase todas as páginas em branco,  não queria saber sobre o cálculo da pena,  interessava era o cálculo mental que eu fazia, aceleradamente, para fisgar o Professor, um figurão da Capital solterito da silva.
Partidasso, partidão.
Fui à luta, meu povo.
Tirei todos os modelitos do armário e a cada aula renovava o visual, grudei o olho no camarada com aquela tenacidade que só os que tem sangue argentino misturado com sangue italiano soem ter.
Um escândalo! Um Deus nos acuda!
Confesso, não sem vaidade, que também sacudi as estruturas do mestre o qual, volta e meia, perdia-se nas alegações e tampouco sabia se o conteúdo da aula era sobre atenuantes, agravantes ou excludentes ou sei lá o quê, fato é que ele passava a impressão de estar levemente aéreo.
Começamos a namorar,  e poderia escrever páginas e mais páginas, pois não tenho como resumir uma história de amor que nunca foi banal, mas vou tentar: éramos só alegria.
Entretanto, como nada é perfeito, no meio do caminho tinha uma pedra, ou melhor, uma Copa do Mundo, e, pior ainda, uma Seleção Argentina.
Nosso cara era descendente de alemães, e nunca jamais torceria para a Argentina, fazia caras e bocas quando a azul y blanca entrava em campo, ameaçava desligar a TV.
Imagínate!
E foi ali que a coisa começou a desandar.
Ele, por seu lado, fanático pela Alemanha.
Eu, pelo meu, doente pela Argentina, fato que ele não conseguia entender, ou se fazia que não entendia - essa é a assertiva correta.
Final de jogo, Alemanha e Argentina.
Que erro crasso cometi, caindo na esparrela de assistir o jogo ao lado dele!
Mas que baita atestado de burrice!
Parecíamos dois pit bull,  rosnando um para o outro.
Então, Dieguito Maradona, el pibe de oro,  marcou aquele golaço que sacramentou a vitória da Argentina sobre a Alemanha por 3x2.
Dei um salto do sofá, gritando enlouquecidamente, agitando minha bandeira e beijando a camiseta da Argentina, gritava tanto que não notei o silêncio a minha volta, até que vi: meu amigo tinha desligado a TV, tinha feito sei lá o que com os fios, e nunquinhas mais eu conseguiria ligá-la novamente.
Da euforia passei ao choro, do choro à fúria e da fúria ao recalque, pois não pude assistir, ao vivo e a cores, a premiação da Argentina, aquele momento único e sublime.
Nem preciso dizer a vocês que o namoro terminou ali.
Perdi o encanto por ele e nem que me jurasse a pie juntillas todo o amor do mundo não ia adiantar, como não adiantou.
Imagínate onde ele foi mexer: com meu sangue argentino! Mas aí sim, perdeu a batalha e perdeu a guerra.
Ainda bem que passei em Direito Penal.
Ao menos isso...









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