sábado, 14 de junho de 2014

Fogo Na Lareira

Aprendi com meu Pai a fazer fogo na lareira, e deveria ter lá meus seis, sete anos.
Modéstia à parte, faço-o bem. Bem, e rápido.
Minha casa paterna tinha uma lareira imensa, feita de pedras especiais, era larga e alta, cobrindo-a havia um tampo de madeira de lei que deveria ter uns 20 centímetros de espessura, onde descansavam os enfeites de cobre de minha Mãe.
Na parede acima da lareira, um fabuloso quadro de um artista local, o grande Jorge Vômero, com a figura de um toureiro e seu manto vermelho, numa gama de cores que iam do vermelho escuro ao laranja,  e tinha tudo a ver com aquele cenário: fogo, cor, calor.
Desde sempre vi aquela lareira funcionar, e meu Pai sair até o fundo do pátio para enfrentar os dias gelados do inverno,  lá pelas 16 horas, com um carrinho de mão para nele colocar os troncos, as lenhas mais finas e os gravetos.
Eu andava ao lado dele, observando cada detalhe de seus movimentos, que guardo até hoje, conversávamos animadamente, ele sempre rindo, olhava para mim e dizia, viu Chininha querida, vamos fazer um fogo daqueles! E ria.
Ele era mesmo uma felicidade ambulante, meu Pai gostava de viver e adorava a vida que levava, estava a todo momento a repetir,  China querida, no te preocupes, Deus proverá!
Suas mãos carregavam a lenha para dentro do carrinho, que vinha equilibrando em razão do peso, até  a calçada que dava para a porta da sala.
Essa tarefa de ir e vir com o carrinho de mão, fazia-o diversas vezes até formar uma pilha de lenhas que ficavam encostadas na parede externa da sala, de onde saía  a chaminé, acho que teria uns 8 metros de altura, com seus ladrilhos vermelhos e brilhantes, um espetáculo a parte.
Finalmente, acomodava engenhosamente os pedaços maiores, um de cada lado da lareira, no meio muito jornal amassado e, por cima, cuidadosamente postos, os gravetos e as lenhas mais finas.
Uma obra de arte, era aquele fogo!
Ele não o acendia  antes do final do dia, nunca. Esperava cair a noite e quando apontava a primeira estrela no céu invernal, não sem antes ter aprontado seu mate, postava-se solenemente na frente da lareira e iniciava o fogo, que começava a pegar pressão lentamente, até  transformar as lenhas em brasas que cintilavam e, a medida que iam sendo consumidas, ele acrescentava outro tanto de lenha, e assim íamos, até a hora de dormir ele, minha Mãe e eu, sentados em círculo, cada um com seus pensamentos e sonhos, admirando aquela cena.
 A cadeira de balanço era a favorita de minha Mãe, o pai contentava-se com qualquer uma, o que ele queria, mesmo, era ficar ali em volta do fogo, saboreando seu mate.
Tive uma infância feliz!
Feliz é eufemismo, minha infância foi extraordinária, graças a Deus, cercada que fui de amores por todos os lados, amores esses que me tornaram o que hoje sou.
Como sempre digo, carrego no coração um fantástico manancial de boas lembranças.
E agora, para não fugir à regra e nem à tradição, sentar-me-ei na frente da lareira acesa,  com suas toras grandes, uma de cada lado, muito jornal amassado no meio e uma pilha de gravetos e lenhas finas, cuidadosamente postos, para saborear meu matecito especial.
No puedo dejar de pensar como la vida es buena!








Nenhum comentário:

Postar um comentário