quinta-feira, 26 de junho de 2014

Santo Remédio

Mariana estava saturada da vidinha idiota que vinha levando.
Chegara aos quarenta e a crise existencial abatera-se sobre ela com uma força tremenda, nada do que havia conquistado parecia suficiente, achava tudo errado e não se conformava com o tempo que, a seu ver, desperdiçara.
Saíra de um casamento completamente arranhada e emocionalmente exausta, os cabelos tinham branqueado e duas finas rugas, aliás, nem tão finas assim, toldavam-lhe o semblante.
Antes risonha e faceira, Mariana andava séria e engordara muito, vivia devorando pasteizinhos e bombons sem qualquer critério, a fim de suprir a falta, de preencher o vazio.
Se antes sua vida era chata, agora era um deserto, uma seca sem fim, não aparecia ninguém para alegrar seu dia e muito menos seu corpo solitário, sedento por um abraço y algo más, que ninguém é de ferro e ela já estava naquela há vários meses.
Começou a prestar atenção ao seu redor, primeiro nos colegas de trabalho, depois nos amigos, mas não pintava nada, nem pra remédio. Muitas vezes ela sentia-se como se fosse um ser assexuado, não sabia muito bem como dar início aos trabalhos e aos jogos amorosos, e ficava naquilo.
Batia longos papos com sua amiga Rose, que, por seu turno, dava-lhe força e apoio na medida do possível.
Até que um dia decidiu mudar.
E mudou, pois deu-se conta que a revolução tinha que começar de dentro para fora.
Decidida, jogou no lixo a caixa inteirinha de bombons finos que tinha comprado recentemente, aboliu os pasteizinhos do café que frequentava diariamente e começou uma dieta radical.
Sim, radicalizar era preciso.
Procurou uma academia de ginástica e partiu para as aulas de aeróbica de segunda a sexta, nos primeiros dias nem teve coragem de mirar-se no espelho, voltava para casa destruída, mas estava começando a sentir-se bem melhor.
Esvaziou o armário e fez uma doação geral, foi numa loja e comprou muitas coisas novas, diferentes.
A Mariana estava ensandecida.
Possuída.
Ainda não...
Como uma coisa puxa outra, começou a formar uma nova turma de amigos, saiu da toca e, enfim, depois de muito tempo, encontrou o que procurava.
Tirou férias, foi para a Europa e, quando voltou, estava irreconhecível: magra, bronzeada, sarada e feliz.
A amiga Rose, os colegas do trabalho e muitos outros, espantados com a sensacional  mudança, não deixavam de perguntar:
Mariana, o que fizeste para ficar tão bem? O que andas fazendo?
E ela, sorridente, respondia:
É simples, meus amigos: ando beijando muito!
Santo remédio!





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