sábado, 21 de junho de 2014

Noche de Ronda

Costumo me exibir e propalar, aos quatro ventos, que não sofro de insônia, um mal que aflige muitos amigos meus, os quais, cada vez que o assunto vem à baila, ficam a olhar-me se soslaio, com um misto de inveja e raiva, pois imagino o quanto deve ser terrível passar a noite revirando pensamentos e buscando um sono que não vem.
Imaginava, devo dizer, pois ontem à noite, aliás, hoje pela madrugada, tive minha dose de remédio amargo.
Minha filha Marina foi passar o feriadão em Alagoas, seu voo estava marcado para sair de Porto Alegre às 9 da manhã de ontem e saiu às 12h.30min., ela chegou em São paulo às 13h30min., de onde me ligou, avisando, para que eu não me preocupasse, pois tudo havia atrasado em função da neblina e somente às 23 horas ela embarcaria para Maceió.
É mole ou quer mais?
A partir dali, minha mente produtiva começo a funcionar e eu já sabia, uma vez que me conheço bem, que não teria mais 1 minuto de sossego até que a criatura chegasse ao hotel.
Foram horas e horas de pensamentos desagradáveis, tenho propensão a teorias da conspiração, tentei me distrair durante a tarde e até lá pelas 23h, horário da decolagem, mas depois, não tive saída a não ser encarar uma noite gélida e uma madrugada tensa.
Um frio de renguear cusco e eu ali, sentadita no sofá, esperando, tentando não olhar para o relógio que, obviamente e só para me irritar andava mais lentamente que de costume, e nem adiantou tomar meu popular Cereus Purpúreos, o tradicional remédio de china velha, como dizia meu Pai, talvez eu precisasse, mesmo, de uma dose desses calmantes faixa preta que não tenha em casa, pois minha parca farmácia doméstica consiste em  sal de frutas e aspirina - simplesmente ridículo, dadas as circunstâncias.
Vieram-me à cabeça tantas histórias absurdas que nem vale a pena comentar,  vou guardá-las para um futuro romance de suspense e tragédia, tal o grau de requinte das asneiras que pensei.
Cantei mentalmente várias músicas, lembrei de uma, do tempo da faculdade, que dizia mais ou menos assim:
No meio da noite, quando eu tenho insônia
Fico lendo um velho jornal
Que é pra ver se durmo, antes do amanhecer
E conto ovelhas, danço com fantasmas
Numa dança sem emoção
E no fim das contas, pelas circunstâncias
Volto a me lembrar, de ti...
E por aí segue.
Fato é que, sim, dancei com todos os meus fantasmas, apareceram amigos do tempo da carochinha que nem eu mesma lembrava e estava crente que havia sepultado em definitivo, que nada daquilo importava mais na minha vida.
Ledo engano!
Nada como uma madrugada insone para colocar ideias em ordem, ou, talvez, numa saudável desordem, porque às vezes é preciso, mesmo, zerar tudo e recomeçar.
Mas põe insônia nisso!
Tornei-me filosófica,  refiz meu trajeto de 53 anos e dei tantos giros que dava pra ir de voltar de Maceió umas quantas vezes!
Às 4 da matina, recebi a ligação redentora, minha filha falava ao telefone como se fossem 10 da manhã, lépida e faceira, deslumbrada com a beleza de seu hotel e da praia que se estendia a sua frente.
A partir dali, caí num sono profundo,  sem sonhos nem fantasmas, esses foram embora e espero que para sempre, se bem que, de alguma forma, me ajudaram, soprando em meus ouvidos algumas verdades que somente uma noite insone é capaz de trazer.
Ainda não digeri muito bem tudo que passei nesta madrugada, mas uma coisa é certa: quando vi o Sol fantástico e o céu azul, não pude deixar de agradecer a Deus por ter conseguido vencer mais esta travessia!



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