sábado, 14 de junho de 2014

Tatu Com Molho

Num dia de inverno, ou de verão, não importa o clima e sim a vontade, tem dias que amanheço com animus  de me aventurar na cozinha.
Hoje, com o frio de rachar que faz na Fronteira Oeste,  quis fazer nhoque.
Com muito molho e uma carne bovina chamada tatu, ou lagarto. Aqui no Itaqui, desde sempre, conheço por tatu.
É uma comida que requer paciência e tempo para ficar no ponto, aliás, não há nada mais aborrecido que cozinhar a toque de caixa, correndo, esse modus não combina nem nhoque e muito menos com tatu.
Que não dizer, então, de um glorioso sambayón - mas isso é sobremesa, e o assunto, hoje, é o almoço.
Tudo começou ontem porque estava com uma saudade tremenda de minha filha Marina, a Engenheira Química que, com 24 aninhos, anda fazendo sucesso na empresa onde trabalha, a John Deere.
A Marina adora um tatu com molho e, como ando saudosa desta minha filha que, se Deus quiser vai chegar no Itaqui daqui a 5 dias, pensei, vou fazer um tatu em homenagem a minha Jurinha - seu apelido, e assim foi.
Só que sou maniática.
Antes de dar início aos trabalhos, começa todo um ritual, que vai desde limpar a cozinha, uma vez que não sei cozinhar com nada sobre a pia, apenas meus ingredientes, até o avental, sempre a postos na gaveta à espera do próximo faniquito culinário de sua dona.
Corto todos os temperos, coloco a panela de ferro que foi de minha Mãe  no fogo,  com apenas uma lista de azeite e uma pitadinha de açúcar para aquecer,  e solto o tatu inteiro ali, não sem antes tê-lo temperado com alho e sal.
Ele vai fritando e se virando, até ficar dourado.
Então, acrescento cebola, pimentão e tomate, uma folha de louro, baixo a chama e deixo.
Dito assim, parece simples, mas não é.
O tatu tem seus segredos e esses eu não vou compartilhar com vocês porque me foram passados pela minha Avó materna Adelaida e pela minha Mãe maravilha, que fazia nhoques e um tatu com molho como ninguém e eu, esta simples mortal, tenho a doce ilusão de manter a tradição familiar e fazê-los tão bem quanto elas, quem sabe, aproximado.
É, pode ser que eu tenha conseguido chegar perto daqueles pratos escandalosamente divinos que minha Avó e minha Mãe preparavam.
Pode ser...
Quem sabe.
De uma coisa, sei: não dá pra cozinhar correndo, salvo arvejas con huevo, mas essa aí é outra receita.
Notável é que, enquanto a carne vai cozinhando na panela, os sabores vão nos levando às lembranças, e de tal forma que, quando nos damos conta, está quase tudo queimando, uma vez que o pensamento flui e voa até onde estão as mais lindas recordações que guardamos dentro do coração.
Por sorte ou arte de magia, voltamos ao local onde estamos: a cozinha de casa, e a comida é salva por alguma mão milagrosa que nos traz de volta, apenas para mostrar que tudo que aprendemos nesta vida não é em vão mas, principalmente, que o que é feito com amor e carinho é garantia de sucesso.
Meu maridão comeu com aquele ar de felicidade e alegria que deixa seu semblante sorridente, e até minha secretária que, de início, estava emburrada comigo na cozinha onde ela reina absoluta, deu o braço a torcer e ficou murmurando, tá bom, báááá...
Ainda bem que sobrou uma lasquinha para o jantar!

Um final de semana muito bom a todos!
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