segunda-feira, 2 de junho de 2014

Andanças

Cada vez que estou de mala e cuia prontas para mais uma viagem, seja para que lado for, ponho-me a pensar que poderia, naquela hora, estar comodamente sentada no meu sofá em frente a TV, ou observando o foguinho crepitando na lareira e não estar ali, paradita no más, esperando o ônibus abrir, o motorista guardar a mala, subir e ficar espiando pela janela, torcendo para ir sozinha esparramada na poltrona, o que é raro, mas não impossível.
Foi o que aconteceu nesta minha volta depois de um final de semana maravilhoso que passei com minhas filhas e meu genro Pedro, baita parceria, a gente riu tanto que chegou a doer a barriga e, ao final, nem sabíamos ao certo qual era mesmo o motivo, a razão social de tanta graça.
Um presente de aniversário e tanto, poder estar ao lado de quem a gente ama, um luxo!
Entrei no ônibus e quando ele saiu, estava sozinha, sem ninguém do meu lado.
Um espetáculo, pensei, como sou sortuda, agora vou dormir como uma bem aventurada...ah, é?
Não deu.
Não deu pra dormir, acho que lá entre Santa Maria e São Borja peguei no sono por puro cansaço.
Apesar de esparramada, os roncos dos vizinhos de poltrona não me deixaram dormir, e, juro a vocês, teve um momento em que me deu uma vontade de levantar e sentar um cascudo no careca que vinha a minha frente, talvez um aperto na orelha - que dói muito, é chato. Claro que não fiz nada, embora, mentalmente, estivesse xingando até a quarta geração dos roncadores, me mantive impávida e com os olhos bem abertos, chegou num ponto xis da viagem que até rezei pra Santa Rita de Cássia, implorando, Santinha, por favor, faz com que eles parem, pelo amor de Deus.
Certamente, Ela deve ter rido da minha cara, pois tem coisas muito mais importantes para atender que o pedido de uma passageira desesperada por um pouquinho de silêncio, e a cacofonia seguiu, tinha para todos os gostos, ronco seco, ronco molhado, um arfava, outro fazia aahahhh, enfim, acho que ronco é pior que mosquito no ouvido.
Difícil.
Nada disso, entretanto, tira minha vontade de sair por aí, e foi nisso que pensei quando vi, antes de embarcar, uma mãe e seu bebê, subindo em outro ônibus, a pobre mãe caindo e levantando com a sacola, a mamadeira,  uma mantinha, o bico, e a criança que berrava, berrava muito.
Lembrei do tempo em que ia para a praia com a Rita, de 2 anos, e a Marina, de meses, com o mesmo carregamento, tudo para ver o mar no sábado de manhã e voltar no domingo a noite, ou quando enfrentava as 9 horas de Porto Alegre até o Itaqui com a dupla dinâmica.
É quem nos espera do outro lado da linha que faz a gente sair de casa, deixar a zona de conforto e enfrentar a estrada, o dia ou a noite todinha, não faz mal, porque o sorriso de quem está nos esperando compensa tudo, o abraço que a gente recebe e dá quando chega vale qualquer sacrifício, a ponto de nos fazer esquecer o cansaço e ir novamente.
Os pés ainda nem desincharam e já estou de olho no calendário e no próximo feriadão.
Roncos?
Nem presto atenção, não me importo...
Nada como chegar de viagem e ficar planejando outra.
Excelente semana a todos!


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