sábado, 12 de julho de 2014

Livros Queimados

Meu Avô paterno Atílio Mondadori, italianíssimo, embora nascido em Brusque(SC), cujos pais vieram da região de San Benedetto Po,  Província de Mantova, na Lombardia, tinha uma história de vida como somente os descendentes de imigrantes costumam  ter.
Com ele não foi diferente.
Meu tio Carlos Alberto, seu filho, guardava, entre as tantas relíquias da família, dois livros que contavam e retravam, fielmente, a saga familiar, que começou no final do Século XIX com a vinda de meus bisavôs ao Brasil, e o estabelecimento definitivo do Avô Atílio por estas bandas do Itaqui, não sem antes ter passado por Buenos Aires, La Cruz e Alvear, esta última, cidade fronteiriça a Itaqui.
Em razão de altos interésses, ou melhor, do dinheiro e da cobiça incomensurável de quem nunca foi parente e caiu de paraquedas na família, considerando que meu tio era solteiro e não tinha filhos eu, na condição de sobrinha  a quem ele, ao que tudo indicava, professava uma grande afeição fui, habilmente, afastada de seu convívio por pessoas que se incomodavam com minha presença.
Eu era um estorvo para o futuro: a herança do tio.
Mal sabiam esses vermes que jamais, em tempo algum, minha aproximação visava esse fim, longe disso: adorava meu tio, éramos extremamente parecidos, ambos geminianos que partilhávamos dos mesmos gostos, ríamos juntos, apesar da diferença de idade, ele do alto de seus 80 anos, eu com a metade de sua idade, fato é que nos dávamos muito bem.
Uma lástima grande é que nem sempre reconhecemos as cobras.
Se disso eu soubesse ao tempo em que meu tio era vivo, teria pedido a ele os livros que contavam a história de meu Avô, e de meus antepassados.
Uma história incrível, diga-se de passagem.
Meu tio morreu, não sem antes ter perpetrado contra mim e contra a memória de meu Pai, seu irmão, um ato ignominioso, digno do mais rocambolesco folhetim, mas isso é outra história.
Mesmo assim, o que foi bom não se apaga.
Tempos depois, pedi a um dos herdeiros, emprestado, os dois livros, a fim de levar adiante uma pesquisa, e recebi a resposta mais cretina que alguém pode obter:
Esses livros não existem mais, tia. Queimei...
Como pode?
Como pôde?
Queimar livros é igualar-se aos queimadores de livros da História, que envergonham a humanidade.
Essa besta quadrada fez isso.
Queimou.
Queimou a história de uma família inteira, não a da sua, obviamente, pois sequer o sobrenome Mondadori esse ser ignóbil ostenta.
Ainda bem!
Nada é por acaso, nada vem sem ter uma explicação previamente traçada,  que nem sempre conseguimos captar os desígnios de Deus, que são insondáveis.
Apenas observo.
Livros queimados nunca foram um bom sinal...


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