quarta-feira, 30 de julho de 2014

O Formal de Partilha

Muitas vezes lutamos, denodadamente, por algo que almejamos.
É o que nos faz mover céus e terras, pois queremos crer que o objeto do nosso desejo, e somente ele, será capaz de aplacar as faltas e as ausências.
Durante cinco longos anos, lutei muito para ficar com a casa de meus Pais. Chorei, briguei, fiz as propostas mais absurdas e até as que, economicamente, não me favoreciam.
Sempre ouvi um rotundo não.
Um dia, tive que optar entre seguir guerreando ou manter minha saúde, e escolhi esta última.
Mas não foi fácil.
Posto assim, dessa forma simples, fica tudo tão pequeno...
Em minha vida, renunciar à casa paterna foi uma hecatombe emocional e, ainda hoje, muitas perguntas permanecem sem resposta.
Deus quis assim, pois foi Nele que me amparei e foi Ele que me mostrou tantas coisas que eu não entendia.
Por isso, cada vez que esse assunto me assombra, procuro logo deixá-lo para trás, pois Deus decidiu, punto i basta.
Após dez anos e sete meses, recebi  meu Formal de Partilha.
Olhei aquele documento e nem sequer o abri, não senti alegria e nem tristeza, apenas um imenso cansaço.   Recordei de tantas coisas desagradáveis que vivi que, mais vale, melhor seria se ele não existisse.
Ao vê-lo, sentei num cantinho e chorei.
Chorei por tudo e por todos, por mim mesma, pelos anos de batalhas travadas, algumas úteis, outras tantas inúteis.
Que lições tirei de tudo isso?
Muitas.
A primeira é a de que a paz não tem preço.
Então, antes de ir para a guerra, pense bem.
Entretanto, si vis pacem, para bellum, diz o provérbio latino.
É verdade.
Nada vem assim de mão beijada, não para mim, nunca veio.
Sempre tive que lutar muito para defender o que por direito me pertencia,  e as minhas filhas.
Lutei e baguncei o coreto nestes anos todos, talvez pudesse ter ficado sentada sem fazer nada,  mas isso seria ir contra minha própria natureza.
Talvez pudesse ter me conformado.
Nunca me conformo com nada, este é meu maior defeito! Depois que embesto e sinto que tenho razão vou até o fim, ainda que me custe, como me custou.
Optei pela guerra, e a guerra deixa marcas: no rosto, no coração, na alma.
Não é fácil enfrentar um conjunto de forças, mas eu enfrentei, e a sensação que sinto é a seguinte: nadei, nadei e, graças a Deus, não morri na praia.
A vida se encarregou de afastar de mim pessoas que não me queriam bem, e eu também aprendi a me afastar delas.
Um exercício dificílimo, mas extremamente necessário.
Segunda lição: a amizade é um caminho de duas vias, um vai e o outro vem.
Quem fica meses sem te dar notícias e só se lembra de Santa Bárbara quando troveja é porque não te ama.
Terceiro: encare o touro de frente e pegue-o à unha!
E, finalmente, quando Deus fecha uma porta - e, no meu caso, a porta da casa paterna se fechou para mim, te compensa regiamente.
De outras formas, com outros desenhos, pintando um quadro novo.
Ou deixando a nossa frente uma imensa tela em branco e uma paleta de cores, para que possamos pintá-la e colorir a vida outra vez.




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