quarta-feira, 2 de julho de 2014

A Enchente do Rio Uruguai

Nasci e me criei no bairro Cerrinho Dois Umbus, essa denominação dos bairros em Itaqui é coisa recente, quando eu era criança e jovem não tinha isso.
Quando me perguntavam onde eu morava, serviam como referência o Hospital São Patrício, este sim, há muito tempo transferido para outro local, e o Rio Uruguai.
Nós morávamos perto do Rio Uruguai, a casa dos meus Pais distava somente duas quadras e, antes de iniciar  uma descida íngreme e cheia de pedras grandes e irregulares que levava até a água havia plantado, um de cada lado, no final da rua,  dois pés de umbu, árvores enormes, de raízes imensas, cuja sombra alcançava o meio da rua e onde, no verão,  gritavam as cigarras.
Que árvores maravilhosas!
Depois da descida, descortinava-se o rio, majestoso e imponente, com suas águas que iam de um verde musgo até o marrom, dependendo do dia.
Nesse rio aprendi a nadar, aos 7 anos, pelas mãos de minha Mãe, até atravessá-lo a nado consegui.
Esse mesmo Rio Uruguai que nos encanta, e a todos os que aqui aportam, pela beleza de suas águas que refletem o sol e o brilho da lua, palco de tantas aventuras e momentos felizes, é o mesmo que hoje castiga centenas de famílias, desabrigadas pela enchente.
Tal é o volume de água, que chega a ser assustador.
Já fui vítima de uma cheia do Rio Uruguai em 1997, fazia três meses que tínhamos alugado uma casa, ela havia sido reformada e estava linda.
De repente, veio a enchente, e veio rápido e em tal velocidade que funcionava mais ou menos assim: pela manhã, a água estava na esquina de casa; ao meio dia, ultrapassara a rua: no fim da tarde,  já chegara na calçada e, de noite, começara a entrar pela garagem.
Que sufoco passei para retirar todos os móveis, roupas e outros tantos badulaques, e aquela água vinha e vinha, avançando e engolindo tudo o que via pela frente.
Um pavor.
Metade de minhas coisas quebraram, devido à pressa,  outras tantas ficaram pelo caminho caídas e ninguém nem viu ou se prestou para recolher pois os desabrigados eram muitos e não havia tempo a perder com objetos materiais, a gente queria tirar os filhos e ficar em algum lugar seco e quentinho.
A enchente sempre aparece no rigor do inverno e geralmente desata a chover cinco, seis dias de enfiada, aquela chuva gelada, e as águas vão subindo sem parar, 9, 10, 12 metros.
É muito triste ver a desolação das pessoas desmontando e carregando o que, certamente, amealharam à custa de trabalho e sacrifício.
Passei a manhã com o pensamento no meu bairro do coração, o Cerrinho Dois Umbus, e nas pessoas com as quais convivi desde sempre.
É pra lá que eu vou agora, ver em posso ser útil, sempre se pode prestar auxílio, de uma forma ou de outra.
Indiferente à desgraça alheia é que não pra ficar!



Nenhum comentário:

Postar um comentário