sábado, 5 de julho de 2014

Beija Flor de Inverno

O dia amanheceu cinzento e com um vento norte soprando por todas as frestas existentes, fazendo redemoinhos, levantando poeira e carregando folhas para todos os lados, como se não fosse suficiente a desolação da paisagem proporcionada pela enchente, as centenas de pessoas desabrigadas amontoando-se nos casebres arrastados para o meio das ruas, as crianças descalças e o cheiro nauseabundo trazido pela água suja.
Que direito tenho, pensava eu, de me sentir triste quando, tão perto de mim pessoas estão passando por tão maus momentos?
Como se a tristeza distinguisse isso, como se possuíssemos um relógio regulador que marcasse:  agora, mesmo triste, fica bem; agora, para de chorar; agora, não sintas mais saudade, pois faz muito tempo e está na hora de estancar esse sentimento.
Seria fácil, não?
Esses, os pensamentos que andavam pela minha cabeça quando escutei um barulhinho no vidro da janela.
Um sonzinho que, apesar de fraco, conseguia  se sobrepor ao ruído da ventania.
Olhei e vi um belíssimo beija flor que, com seu bico, batia no vidro, insistentemente.
Se a janela estivesse aberta teria entrado, a toda certeza.
Ficou parado ali, por alguns instantes, beijando os gerânios da floreira, olhou para mim mais uma vez, e sumiu..
Que mensagem fantástica recebi!
Acredito muito naquilo que alguém, de algum lugar invisível aos nossos olhos, mas não a nossa alma, nos envia.
Minha Mãe adorava beija flores, dizia sempre que eles são sinal de boas novas e de muita sorte e felicidade quando aparecem.
Portanto, concluo que o beija flor encantado que veio bater na minha janela em pleno inverno, certamente é mensageiro de grandes alegrias que se avizinham.
Tomara.
Assolado pela enchente, meu adorado Itaqui precisa, urgentemente, de um afago dos céus e de uma trégua da natureza, contentamento e bem estar para nossa gente.
De uma revoada de beija flores de inverno, é do que estamos precisando!



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