sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Água Na Boca

Quando eu morava no Portinho e  me achava a última bolachinha recheada do pacote, acreditava que abafava e que entendia tuuuudo em matéria de sedução,  frequentava uma boate chamada Água na Boca.
Mas credo!
Simplesmente, um espetáculo.
Ficava na Praça do Portão, nº 55.
Um casarão antigo pintado de branco, a porta preta e, lá dentro, bom, lá dentro era o máximo.
Tudo era lindo, tudo era chique, fino, de bom gosto.
A decoração consistia em grandes poltronas brancas, com mesinhas no centro, pequenos sofás - tudo em couro branco, iluminação indireta, não era uma escuridão mas também não ficava claro demais.
Perfeito.
Agora, o globo espelhado no centro da pista de dança, esse era o canal da emoção.
E funcionava assim:
Lá pelas 23h30min.,  mais ou menos, começava a tocar aquela música maravilhosa da Rita Lee,  Mania de Você e, de imediato, o globo começava a girar com seus milhares de espelhos.
Que coisa linda!
Lindo, mesmo, era o clima!
Ir dançar na Água na Boca era aquele tipo de programa que tinha tudo pra dar certo, e sempre dava.
A produção começava cedo, no sábado à tarde.
Tinha que pensar no modelito, no cabelo e na maquiagem e, obviamente, una vuelta en la peluqueria não poderia faltar no roteiro, horinha marcada com dias de antecedência no Gentil Cabeleireiros, ali na Independência, e aquilo bombava, a festa começava por ali.
Mais tarde, minhas amigas me buscavam e a gente ia de carro, com o som a mil, ninguém se preocupava com assaltos ou se beber, não dirija.
Que tempos!
Chegávamos,  e a magia começava já na calçada, onde uma iluminação feérica nos recepcionava, além, claro, de dois porteiros educadíssimos.
Lá dentro, a música símbolo do lugar começava a tocar e todo mundo cantava e dançava, enquanto olhava em volta à procura do par perfeito para uma noite memorável.
E a gente sempre achava.
Ficávamos nos olhando de longe e, devagar, de mansinho, íamos nos aproximando, uma turma, outra turma, até que a gente saía para a pista de dança pra dançar de rosto colado.
Coladésimo!
Meu bem você me dá,
água na boca.
Vestindo fantasias,
tirando a roupa...
A gente faz amor
Por telepatia
...mania de você, de tanto a gente se beijar...
Éramos altamente românticos, é, o romantismo era a tônica do lugar, não havia espaço pra baixaria e vulgaridade, nunquinhas.
Homens lindos, arrumados, cheirosos.
Havia, acima de tudo, um código não escrito mas que se impunha: educação e finesse eram as palavras de ordem.
Fui muitas, muitas vezes naquela boate maravilhosa, frequentada por artistas, intelectuais, jogadores de futebol, jornalistas,  pessoas que buscavam diversão em um lugar de qualidade.
Era, sem sombra da dúvidas, a melhor boate de Porto Alegre!
Só de lembrar, deu água na boca!





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