sábado, 30 de agosto de 2014

Histórias de Lucrécia, a Peidorreira

Lucrécia nascera em Encarnacion, no Paraguai, mas a família mudara-se para Posadas, na Argentina, quando ela era ainda bebê.
O nome era esquisito, mas sua mãe, la senõra Babú, uma paraguaia gordota e baixa encasquetara que, quando tivesse uma filha, chamar-se-ia Lucrecia, e assim foi.
Ela tinha aquela mistura de castelhano com guarani que a tornava especial, diferente, como se  não bastasse o nome: Lucrecia era uma menina gordinha, morena, pele azeitonada, olhos negros repuxados e uma boca grande de muitos sorrisos.
Arteira e agitada, Lucrecia era a alegria da casa, não fosse por uma peculiaridade enjoada: peidava muito.
Isso incomodava sobremaneira a la senõra Babú, que tentava corrigir esse defeito da filha mas não lograva êxito.
Lucrecia, por seu lado, sabia que  não deveria agir assim mas era mais forte que ela e quando se dava conta, pá...soltava um peido nos momentos mais inconvenientes.
 Estavam almoçando, e ouvia-se  aquele som que vinha de baixo da mesa: podia contar que fedia!
Quando tinha uma visita, então, nem se fala!
Lucrecia estava terminantemente proibida de aparecer, deveria ficar bem longe do living, só que os sons eram inconfundíveis, e as visitas entreolhavam-se, num misto de constrangimento e riso, suficiente para terminar qualquer reunião.
Na missa, na hora da comunhão, prrrrrrrrrrrr!
Muitas vezes Lucrecia escondia-se, pois sabia que sua mãe não tolerava aquilo.
Quietinha, postava-se atrás da cortina da sala e ali ficava, peidando à vontade num fedor insuportável, ela e o cachorro, seu cúmplice de fedentina.
Asdrúbal, um pastor alemão que chegara à casa da família quando Lucrécia nascera seguia-a por todos os lados e, quando a menina enroscava-se nas cortinas, sabia: era peido na certa!
Então, Asdrúbal jogava-se aos pés de Lucrécia e apenas levantava os olhos, impressionado com aquele cheiro terrível que exalava e se espalhava pela sala, mas não tinha o que fazer.
Lucrecia cresceu e na escola era ainda pior: estavam no bom da aula, naquele silêncio quando de repente, prrrrrrrrrrrr, ela soltava um peido sem a menor cerimônia.
E ria, ria muito, isso é que era o pior.
A risada de Lucrécia , somada aos peidos que largava, era algo intolerável.
Um acinte!
La senõra Babú, apavorada, decidiu consultar um médico, aliás, foram vários, mas nenhum deles conseguiu resolver aquele problema tremendo.
E ela, volta e meia, repetia, como uma espécie de mantra: Lucrecia, peidando assim, jamais arrumarás namorado!
E aí, ficaria com uma solteirona peidorreira entalada dentro de casa, o que significava, para la senõra Babú,  um completo desastre.
Lucrecia cresceu e transformou-se em uma mulher linda, mas o defeito de fábrica persistia.
Um dia estava na academia quando decidiram fazer um exercício de agachamento: práááááá´!!! E o fedorão tomou conta da academia inteira!
De outra feita, ela bem que tentou impedir, mas foi pior.
Bem pior
Saiu um surdo tão poderoso quanto nauseabundo que correu com todas as pessoas que por ali passavam.
Pobre Lucrecia!
A coisa estava tomando proporções tais que até criaram uma página no Facebook especialmente para ela Histórias de Lucrecia, a Peidorreira! e aquilo se espalhou qual rastilho de pólvora!
Lucrecia, embora soubesse de seu problema, e bem ciente estava dos estragos que fazia, no fundo, no fundo, divertia-se imensamente.
Aquilo era um problema para sua mãe, la señora Babú, mas não para ela.
Ela a d o r a v a quando, ao deitar-de, peidava embaixo das cobertas e depois, ao sacudi-las, saía aquele cheiro fétido, o que a levava a dar enormes gargalhadas.
Ela nem tava.
Azar, pensava. Quem não quiser sentir, que saia.
Muitas vezes, na faculdade, ia até o bar apenas com o intuito de soltar um peido fino e silencioso, e ficar observando as caras e bocas que as pessoas faziam.
Depois, corria para o banheiro para rir, escondida,  do tamanho do estrago.
Que mania, que pessoa!
Talvez o fizesse para chamar a atenção, mas poderia ter inventado algo mais criativo.
Só que aquilo era, a bem da verdade, um misto de safadeza inocente com uma vontade incontrolável de divertir-se às custas dos outros.
Era isso, apenas isso, mas  ninguém entendia!
Assim vivia Lucrecia e assim viveu até seus 24 anos quando, sem aviso ou estardalhaço, um belo dia...
Foi no bar da faculdade, como sempre, onde tudo acontecia.
Ela viu entrar aquele carinha lindo, não muito alto, dono de um sorriso de arrasar quarteirão.
Parou tudo, congelou e ficou olhando para ele, que também a olhava pois, apesar do defeito, Lucrecia era muito bonita.
Resumo da ópera: apaixonaram-se perdidamente, namoraram por um par de anos, casaram-se e foram felizes para sempre.
O que tinham em comum?
Tudo!
Ambos gostavam de praticar esportes, de viajar, de dançar, de sair para jantar com os amigos.
Mas havia uma prática que ambos curtiam, acima de tudo: adoravam ir ao cinema, só para sacanear...
E, lá pelas tantas, saíam às gargalhadas, bem no meio da sessão, deixando o povo atordoado com o mau cheiro.
Os peidorreiros também amam!








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