sábado, 16 de agosto de 2014

Los Antônios de Mi Vida

Meu avô materno chamava-se Antônio Eládio e não o conheci, pois foi embora três dias antes de eu nascer.
Dele havia apenas uma foto, mas contava minha Mãe, e também meu Pai, fã declarado do sogro, que ele era uma pessoa íntegra e de caráter firme, com um olhar doce e de fala gentil.
Era farmacêutico e apaixonado por livros, o primeiro Antônio que não conheci mas que muita influência teve em minha vida pois minha Mãe fazia questão de nomeá-lo sempre que podia, contando-me suas histórias.
A Farmácia Alvear era a única que existia na cidade do mesmo nome, de onde minha Mãe era, e vendia de tudo um pouco, seguindo o costume da época.
Lembro-me até do cheiro daquele lugar que conheci desde muito pequena e não gostava dele, menos ainda do funcionário, que atendia pelo apelido de "Papacito".
Não sei a saúde de que impliquei com a criatura desde o primeiro instante em que a vi, vai saber a explicação - não tem, para antipatia gratuita.
A farmácia tinha prateleiras de madeira escura que iam do chão ao teto, e o piso igualmente era feito do mesmo material. Mal entravamos ali, e vinha aquele cheiro enjoativo de remédio misturado com mercúrio cromo e água oxigenada, mas minha Mãe parecia não se importar com aquilo, encostava-se no balcão e começa uma conversa interminável com Papacito o qual, por seu turno, colocava-a a par de todas as fofocas locais.
Meu Avô não estava mais ali mas sua farmácia continuou por mais de 20 anos, até o dia em que fechou as portas, para grande tristeza de minha Mãe, que dizia " nena, hoy es un dia triste para mi, cerró la farmácia de mi papá. Pero, hay que seguir viviendo...
Meu segundo Antônio é meu irmão, cujo apelido é Caito, meu grande companheiro de tantos carnavais e de empreitadas difíceis, calmo, tranquilo e sereno, exímio nadador e alucinado por livros,  e os tem em tal profusão que chega a andar com uma meia dúzia no porta malas do carro. Foi pelas mãos dele que entrei no Rio Uruguai pela primeira vez, com ele andei de aero silha em Piriápolis. Gentil e carinhoso é o meu Antônio Carlos, não importa que moremos longe um do outro, sei que, em pensamento, estamos sempre em comunicação.
O terceiro Antônio da minha vida é Santo Antônio, de quem meu Pai era devoto e a quem também venero, meu amigo Santo Antônio ou, como costumo chamá-lo, meu Santo Antoninho jamais me deixou na mão. Tenho tantas histórias com Santo Antônio, cujo dia comemora-se em 13 de junho, que algumas são difíceis de acreditar, como a que relato abaixo:
Certo dia saí  para ir a uma loja no centro da cidade. Ia com um par de brincos lindo, presente do maridão.
Desci do carro, fui na loja, comprei o que precisava, voltei e, quando cheguei em casa, notei que um lado do brinco tinha caído.
Procurei, olhei no carro, na calçada de casa, na bolsa, na roupa, e nada.
Fiquei muito triste e decidi voltar à loja, vasculhamos tudo, um funcionário e eu, mas do brinco, nem rastro.
No trajeto que fiz de casa até a loja vim rezando, pedindo a Santo Antônio que me ajudasse a encontrar o brinco, e assim continuei,  tinha certeza que em algum lugar, ele estaria.
Por favor, me ajuda a achar meu brinco, Santo Antoninho querido!
Saí da loja e olhei para a rua, e lá estava o brinco, faiscando ao sol, ao lado da roda do carro.
Estava ali, esperando por mim, parecia.
Alguém poderia ter visto, e levado.
A roda de algum carro poderia tê-lo esmagado.
Recoloquei meu brinco feliz da vida e fui direto sem escalas a Igreja para, claro, rezar mais três Ave Maria para meu amado Santo Antônio.
Afinal, pela graça alcançada, demos graças!




Um comentário:

  1. Lindas as histórias dos teus Antonios! Um deles eu conheço, o teu irmão Caíto, muito gentil e distinto! Eu tinha um querido irmão chamado Antonio José Tiarajú, muito espirituoso e amigo! Um grande abraço, Lia!

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