quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Cobradores

Tem gente que só lembra de Santa Bárbara quando troveja, isto é, liga para a pessoa porque dela precisa.
Necessita de alguns préstimos, ou que a mesma faça algum trabalho que, por preguiça, burrice ou incompetência lhe caberia fazer.
São os cobradores, aquele tipo de gente que presta, mesmo, é para incomodar.
Para tirar o sossego alheio e torrar a paciência, pois cobrador que se preza é isso: um porre, um purgante de óleo, e notem bem, meus queridos amigos, que não estou falando daqueles que são cobradores por força de sua profissão.
Refiro-me, aqui, aos cidadãos que vieram ao mundo com a missão de chatear o outro.
De arrogarem-se o direito de julgar, de apontar o dedo, de subir num pedestal e lá ficar, encarapitados como se fossem  semi deuses.
Os cobradores são assim, ó: jamais ligarão para você para perguntar como está sua saúde, como vai a sua vida, se você está bem, mais ou menos ou quase indo para o andar de cima.
Esses detalhes pouco interessam aos cobradores de plantão, uma vez que eles não sentem nada de positivo em relação a você; apenas pensam que você é como um peão que deve correr para eles, que deve atender ao chamado ao menor sinal, talvez o chamem com um assovio, um psiu, mas você, na visão dos cobradores, precisa estar a postos.
Afinal, você é um perfeito idiota que pode ser pisado a qualquer tempo, dia e hora, pois é um ser infinitamente inferior aos cobradores, que cerram de cima e tudo podem.
Dos cobradores, não se iluda,  nunca você ouvirá uma palavra terna, afável, um elogio.
Um carinho, uma vez a cada morte de bispo.
Não.
Os cobradores estão no mundo, ou melhor, no seu mundo, apenas para fazê-lo recordar que você é a rapa do tacho, o tufo, aquele passarinho que nasceu com uma perninha quebrada, a ovelha negra, o patinho feio.
Aliás, eles fazem questão de deixar bem claro que você veio a este mundo para servi-los.
São aquelas pessoas que batem à porta de sua casa e se abancam no seu sofá mas,  na rua, fingem que não o enxergam, sequer o cumprimentam.
Os cobradores, além de vis, são caras de pau: falam mal de você pelas costas e depois, adivinhe: quem veio para o jantar?
Os cobradores também são aquele tipo de gente que fica um par de anos sem saber nada sobre você e, de repente, aparecem no seu trabalho para pedir penico e ainda pensam que mandam.
Convivi durante um largo tempo com cobradores, até o dia em que amanheci com a guampa virada e dei um basta, fechei a cara, a porta, a janela, sumi do mapa, peguei minha viola e fui cantar em outro lugar.
Um lugar onde, diga-se de passagem,  nem em mil anos serei encontrada.
Mas não sem antes ter deixado aos cobradores, à guiza de lembrança, meu mais profundo desprezo.




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